terça-feira, 20 de abril de 2010
Quatro poemas de Rafael Mantovani
a rua Corinto
na curva de volta pra casa
naquele dia comum
subi a rua Corinto
sem desespero nenhum
sem pensamento em cigarro.
meu passo, embora sozinho,
subia devagar e firme.
um casal no escuro, de agasalho,
subia a rua Corinto à frente de mim.
***
Noruega
na Noruega é assim:
o sono chega de trenó,
desembarca em pernas curtas,
traz uma mochila, diz que vai morar comigo.
ele tem o rosto de um cachorro
e um rastro escuro na barriga —
todos os nomes de lugar
escritos numa única lista.
***
noite
ficam os anéis, vão-se os
dedos.
o direito de uso da sua escrivaninha,
suas palavras escritas,
do seu olho, também,
um dia finalmente despertencerá.
cuide bem das suas coisas
por respeito
aos amigos e filhos, vizinhos,
ao catador de lixo, ao ladrão.
cuide bem do seu humor
por amor
ao seu irmão.
***
do litoral
1.
eu era uma cidade inteira
tentando fazer contato.
no horizonte submerso
eu era sobrevivente.
talvez passasse de noite
uma astronave ou um barco
e me visse
assim luzes acesas
cachorros gente nas ruas.
2.
do litoral enxergavam
às vezes chuva, às vezes
a linha escura de prédios
(estariam vivos
lá também?), mandavam
sinais de rádio.
***
Rafael Mantovani nasceu em São Paulo. É também tradutor e publica no blog http://mantovanimantovani.blogspot.com/
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Muito bonito o layout novo. letras de piscina. curti.
ResponderExcluirlegais os poemas, principalmente esse ultimo.
ResponderExcluirgostei do "no horizonte submerso/
eu era sobrevivente".
obrigado, anônimo :-)
ResponderExcluirGrande Anônimo, sempre presente! haha
ResponderExcluirlegal o blog! e muito boa escolha, publicar o querido - e ainda quase inédito - Rafael Mantovani. gosto muito desses; na verdade, até musiquei o 'noite'! :] abraços para o poeta e para as editoras.
ResponderExcluirnossa, muito ruins. Nao sei por que certas pessoas acham que é só escrever qualquer bobaginha e quebrar em versos que ira poema.
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