É dispensável qualquer tipo de comentário quando o texto é auto-explicativo. Sem mais delongas. Com vocês, Anderson Pires!
ichl no more
... e todos meus amigos, poetas, chapados, duros, semi-duros, apavorados com a onda gay, filhinhos da mamãe, filhinhos do papai, que gostam de oswald, bandeira, baudelaire, que ouvem tom zé, beatles, stones, que assistiram godard, glauber, sganzerla, traíram e foram traídos, querem revolucionar a literatura, ganhar dinheiro muito dinheiro, que entenderam o amor, cujo desejo não cabe na paixão, só pergunto uma coisa: venceremos?
*
dinamitando os centros culturais
uma biblioteca
cemitério de livros
não sou borgeneano, meu amigo
prefiro as ruas
e as musas?
prefiro-as nuas
*
Trovadores elétricos
Porque “as paixões vem e vão
E o amor é o segredo mais bem guardado da cidade”
Levamos nossos desejos até o limite
E cansados caímos nos braços da glória ou da vergonha
“Finalmente ela me abriu seu livro secreto
Escrito por um poeta francês do século XIX
Seus versos tinham o timbre da verdade
Ardendo em chama viva
E o que estava imprenso ali
Era o que eu trazia escrito na alma”
Procuro as palavras exatas
Para exprimir o que em mim é inexato
Não as encontro
Mudo
Ou meu vocabulário é limitado
Ou já estou muito além desse mundo
“Quando por fim nos encontrarmos como amigos
Finja que não me conheceu
Quando tinha fome e dependia de uma palavra sua”
*
A confissão do facínora
Descubro o orgulho como a moeda de troca
A máscara que esconde o fraco
A pedra na qual o forte tropeça
Nós corremos para lá e para cá
Enquanto o seu rostinho lindo está indo para o inferno
Se a verdade estiver por princípio
Se o amor estiver por base
E a amizade por fim
Que progressos faríamos?
Eu tomei a arrogância por princípio
O que sou, eu conto:
Tenho riquezas: um olhar febril, o coração frio,
E gozo a vida e não sofro
Não sou católico
Se pudesse dar um salto ao passado
E recuperar a minha essência
Se pudesse dar um salto ao futuro
E assassinar a minha inocência
Vou te falar
Sua cidade é muito grande
Mas agora estou mais alto.
*
A poesia do Anderson é impressionante. Sou fã incondicional.
ResponderExcluirE esses 2 últimos, os que ele leu no Eco são fodas demais. Deu pra sentir direitinho a reação do público. Foi uma clima que não dá pra explicar... ou porque meu vocabulário é limitado, ou porque ele está muito além desse mundo :)
Gosto demais dos versos finais de um que se chama "The Stooges-funhouse":
"um pensamento no sol e outro na noite
o que ela chama 'consciência' é uma câmara de tortura
o seu amor só gerou tristeza
e sua beleza se cobriu com o véu do tempo
que tudo desgasta
tudo enfraquece"
A poesia do Anderson é reamente impressionante. Ele cria uns versos que são indescritíveis. Não conheço esse que você citou, Laura. Um que gosto muito é esse:
ResponderExcluir"não, não serei um rasta
não, não deixarei meu cabelo crescer
não, não farei tudo pela fama e pelo dinheiro
não, não serei o classe média
não desistirei
pois nesse mundo
somos, um dia: o riso
noutro: a piada
gosto de samba e rock, meu irmão
e acredito que o amor consola"
Sem falar no "dinamitando os centros culturais", meu favorito.
há um ethos na poética do anderson que me agrada; inclusive uma determinada "caretice", afigurada ali e acolá. O fingimento - ou máscara - dos referenciais que ele tem, mas que traz em crise; a vontade oralizada dos poemas...
ResponderExcluircomentário para o anderson sobre "A confissão do Facínora": me ouviu, né danado?... tirando um pedaço ruim de um verso ruim... ganhou força; o poema sobreviveria sem mim, mas eu sou muito legal.
Não conheço as poesias dele e só sei do que li por aqui, mas apaixonei-me por este fragmento:
ResponderExcluir"Procuro as palavras exatas
Para exprimir o que em mim é inexato"
Como já disseram por aí, lutar com palavras é a luta mais vã.
Belo blog!
autoexplicativo: foda!
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