domingo, 7 de junho de 2009

Poesias: Anderson Pires

ANDERSON PIRES nasceu em Angra dos Reis, RJ, em 1972. Formou-se em Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora e doutorou-se em Literatura pela PUC-Rio. Durante o ano de 2000, publicou a novela “Los Paranóias” no fanzine URGH!, publicado em Juiz de Fora. Na mesma cidade, atualmente, é professor na UFJF e um dos organizadores do ECO.


É dispensável qualquer tipo de comentário quando o texto é auto-explicativo. Sem mais delongas. Com vocês, Anderson Pires!


ichl no more

... e todos meus amigos, poetas, chapados, duros, semi-duros, apavorados com a onda gay, filhinhos da mamãe, filhinhos do papai, que gostam de oswald, bandeira, baudelaire, que ouvem tom zé, beatles, stones, que assistiram godard, glauber, sganzerla, traíram e foram traídos, querem revolucionar a literatura, ganhar dinheiro muito dinheiro, que entenderam o amor, cujo desejo não cabe na paixão, só pergunto uma coisa: venceremos?


*

dinamitando os centros culturais

uma biblioteca

cemitério de livros

não sou borgeneano, meu amigo

prefiro as ruas

e as musas?

prefiro-as nuas


*


Trovadores elétricos

Porque “as paixões vem e vão

E o amor é o segredo mais bem guardado da cidade”


Levamos nossos desejos até o limite

E cansados caímos nos braços da glória ou da vergonha


“Finalmente ela me abriu seu livro secreto

Escrito por um poeta francês do século XIX

Seus versos tinham o timbre da verdade

Ardendo em chama viva

E o que estava imprenso ali

Era o que eu trazia escrito na alma”


Procuro as palavras exatas

Para exprimir o que em mim é inexato

Não as encontro

Mudo

Ou meu vocabulário é limitado

Ou já estou muito além desse mundo


“Quando por fim nos encontrarmos como amigos

Finja que não me conheceu

Quando tinha fome e dependia de uma palavra sua”


*


A confissão do facínora

Descubro o orgulho como a moeda de troca


A máscara que esconde o fraco

A pedra na qual o forte tropeça


Nós corremos para lá e para cá

Enquanto o seu rostinho lindo está indo para o inferno


Se a verdade estiver por princípio

Se o amor estiver por base

E a amizade por fim

Que progressos faríamos?


Eu tomei a arrogância por princípio

O que sou, eu conto:

Tenho riquezas: um olhar febril, o coração frio,

E gozo a vida e não sofro

Não sou católico


Se pudesse dar um salto ao passado

E recuperar a minha essência


Se pudesse dar um salto ao futuro

E assassinar a minha inocência


Vou te falar

Sua cidade é muito grande

Mas agora estou mais alto.


*

5 comentários:

  1. A poesia do Anderson é impressionante. Sou fã incondicional.
    E esses 2 últimos, os que ele leu no Eco são fodas demais. Deu pra sentir direitinho a reação do público. Foi uma clima que não dá pra explicar... ou porque meu vocabulário é limitado, ou porque ele está muito além desse mundo :)

    Gosto demais dos versos finais de um que se chama "The Stooges-funhouse":

    "um pensamento no sol e outro na noite
    o que ela chama 'consciência' é uma câmara de tortura

    o seu amor só gerou tristeza
    e sua beleza se cobriu com o véu do tempo
    que tudo desgasta
    tudo enfraquece"

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  2. A poesia do Anderson é reamente impressionante. Ele cria uns versos que são indescritíveis. Não conheço esse que você citou, Laura. Um que gosto muito é esse:
    "não, não serei um rasta
    não, não deixarei meu cabelo crescer
    não, não farei tudo pela fama e pelo dinheiro
    não, não serei o classe média
    não desistirei
    pois nesse mundo
    somos, um dia: o riso
    noutro: a piada
    gosto de samba e rock, meu irmão
    e acredito que o amor consola"

    Sem falar no "dinamitando os centros culturais", meu favorito.

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  3. há um ethos na poética do anderson que me agrada; inclusive uma determinada "caretice", afigurada ali e acolá. O fingimento - ou máscara - dos referenciais que ele tem, mas que traz em crise; a vontade oralizada dos poemas...

    comentário para o anderson sobre "A confissão do Facínora": me ouviu, né danado?... tirando um pedaço ruim de um verso ruim... ganhou força; o poema sobreviveria sem mim, mas eu sou muito legal.

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  4. Não conheço as poesias dele e só sei do que li por aqui, mas apaixonei-me por este fragmento:

    "Procuro as palavras exatas
    Para exprimir o que em mim é inexato"

    Como já disseram por aí, lutar com palavras é a luta mais vã.

    Belo blog!

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