domingo, 9 de agosto de 2009

Baião de Três.

Santo de casa não faz milagres, marketing pessoal nem nepotismo. Mas são nossos e estão aqui.

schöner

vem cá
senta aqui comigo
joga essas penas pro chão
cuidado pra não se sujar com a tinta
senta e diz se há
no mundo algo mais belo


vem cá
vamos sentar aqui no chão
empurra estes livros pra lá
não, com estes tome cuidado
coloque na mesa
agora me diz se há
no mundo coisa mais bela


vem cá
vamos tomar um café
que é pra espantar esse sono
pra gente poder conversar
esquece o que a gente diz
de Borges e García Márquez
joga a Clarice pra um lado
que eu jogo o Saramago pro outro
só me diz se há
no mundo coisa mais bela
que esquecer esses caras
e escrever seus próprios versos
(mesmo que eles não mudem nem mesmo
a sua própria vida)

(Larissa Andrioli)

* * *

Rascunho

... e o lápis correndo agora no papel
são, em verdade, meus lábios
traçando aos poucos nos seus cabelos
detalhes no plano do nosso desejo.
E dizendo:- Ninguém predestina o desencontro,
há sempre outra página: o epílogo.
Vem comigo
ser mais que a possibilidade do impossível,
fazer o interdito dos sentidos
surgir e pertencer
a nós.

(Laura Assis)

* * *
O direito ao grito

É estranho entender aos que fazem algo na espera de algo mais. Um favor, uma bondade, um carinho, tudo isso esperando o que poderiam lhe dar em troca. Não, eu não quero isso. Também não quero que me façam nada esperando ter algo em troca. Já existe um nome pra isso? No amor não é diferente, estranho seria se fosse. Amam esperando um amor de volta. Na verdade as pessoas temem o amor, aquela dor de amor. Conversando com um amigo, já de maior idade, ele me contava de suas paixões. E eu gostava de saber. Ele contava com um brilho no olhar, e embora tivesse sofrido tanto, foi uma paixão arrebatadora daquelas que nos deixam sem rumo mesmo. As paixões não foram minhas companheiras, creio que nem o serão, pois, se paixão é meio amor e eu nunca soube amar pela metade.
Mas, não foi para falar em paixões que hoje me sentei de frente ao computador, na verdade eu estava sufocada. Sufoco-me diariamente, mas ontem... ontem foi diferente e somente hoje eu senti o alívio de ter novamente minha garganta livre. Eu poderia até gritar, mas não gritei. É que eu me sinto pressionada a fazer o que parece ser o tubo único de uma vida. Aquilo de todos precisam fazer e eu não posso fugir à maioria. Oh, como é cruel! E realmente eu queria ter nas Letras um instrumento de trabalho (uma vez que já é um instrumento na vida) sem precisar ser professora. Por fim, grito.

(Pamella Oliveira)

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